sábado, 31 de maio de 2008
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Parabéns!
O blog http://dofundodacomunicacao.blogspot.com/ ganhou o Grande Prémio APCE para o Melhor Blog de Comunicacao de 2007! Estamos orgulhosos do nosso "tio" blog. Parabéns ao Joao Duarte, Rita, Joana, Ines e a toda a equipa. Sendo que estamos em vias de nos profissionalizar na arte do Crava, temos pena de nao estar ai para ir ao Rock in Rio com voces... fica para a proxima. Divirtam-se hoje a noite. E a Amy Winehouse? Sempre vai?
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Quanto à viagem propriamente dita: confesso que a decisão de continuar não foi muito dolorosa. O dilema, contudo, era real. O orçamento está a chegar ao fim; mas há o sonho de atingir Dakar. Fomos à procura de iluminação no farol de Cap Blanc – avariado! E numa viagem com tantos barcos encalhados, a última coisa que apetecia era tomar uma decisão tão importante à vista daquele que estava ali ao lado.
É verdade que não há sonho que não possa ser adiado para se honrar um compromisso... mas voltar para trás agora ia deixar um travo amargo, quando o resto da aventura tem sido tão doce. Sentimos isso na viagem de comboio para Zouérate. Por muito concentrados que estivéssemos nos "filmes" que assistimos dentro da carruagem, foi inevitável olhar para fora, pela janela ou debruçados na porta, e perder-nos em pensamentos enquanto o deserto passava. Quem já viajou de comboio conhece o efeito de uma paisagem a passar, ao som dos carris, embalada no movimento da carruagem: uma nostalgia imensa, cheia de sonhos, sorrisos e histórias.
Os comentários no blog foram o incentivo que faltava. Tenho de confessar: quando lemos as reacções, ficámos os dois de peito-cheio. Parecíamos dois putos, a ler em voz alta um para o outro, as pessoas a olhar para nós sem perceber nada – e nós a rir da primeira à última palavra.
Não vamos disponibilizar o NIB – muito obrigado pela ideia, a sério, mas não é essa a solução que procuramos. E não é por teimosia ou por semos “mal-agradecidos”: mas porque os mil euros são para nós um símbolo. O símbolo de que é possível realizar muito, com poucos recursos. Da mesma forma que não somos desportistas profissionais nem temos visão raio-X e outros super-poderes.
Dakar está à vista. De Nouadhibou à capital do Senegal são menos de 1000km, é um saltinho. Vamos já despachar uns 400, à boleia numa camioneta, e o resto (inchalah) pedalamos. A rota programada – não é costume fazermos futurologia neste blog, mas as regras são para se quebrarem – é Nouankchott, Rosso, Saint Louis e Dakar.
E se no regresso tivermos de pôr mais 50 euros para o ferry – espero que não seja preciso, acredito mesmo que não – mas se fôr, azar. Não é por aí que o projecto morre. Símbolos são símbolos – são bandeiras, são mensagens.
by Jorge
Ao meu lado dormia um mauritano (décima foto dos momentos) que assim que pregou olho começou a aquecer os seus pestilentos dedos do pé debaixo das minhas coxas. Não obrigado, e degladiei-me toda a noite numa insónia com forte cheiro a chulé. Levantei me para ir à casa-de-banho: não tem porta, água ou luz mas uma vista privilegiada para o deserto dum janelão sem vidros. O chá da manhã é servido por um velhote que montou o “restaurante” (foto 11) sobre uma manta de pó, fungava com ajuda de dois dedos enfiados nas narinas, lavava o tacho com esses mesmos dedos, e um bocado de água que saía preta ao primeiro contacto. As quatro geladeiras que guardavam os seus “frescos” mantimentos, a cada salto de carril espeliam potente cheiro, como se tivessem ficado esquecidas do Verão anterior, com os restos duma sardinhada.
Pode isto ser uma epopeica e imperdível excursão ao Sahara? Valeu a pena fazer um desvio à rota, gastar mais uma porção do nosso magro orçamento para sofrer tanta agressão nazal? Sem dúvida que sim! É que o único sonho que temos com cheiro a OMO é a primeira noite de sono em Lisboa. Em viagem os sentidos mudam e o que procuramos são filmes distintos, são as pessoas como elas vivem, e a noção de conforto vira-se, sem esforço, de pernas para o ar.
E ainda acabámos em casa do Sidi, no meio da sua família, a beber chá e esparramados por almofadas no chão, num dolce fare niente que abunda nestas paragens.
Com a luxuosa possibilidade de prolongar este repuxo de memórias por mais uns tempos, mesmo pondo em risco a meta dos 1000 euros, as nossas vontades decidiram em uníssono: vamos até Dakar!
quarta-feira, 28 de maio de 2008
segunda-feira, 26 de maio de 2008
No comboio mais longo do mundo
Ja estamos em Zouerat, a cidade mineira de onde se extrai o ferro que enchem os 200 vagoes(!) do comboio. Para os passageiros ha apenas duas carruagens, nos fomos na mais barata - menos de 3€ - que nao é mais que um espaco vazio com bancos a volta. Foi memoravel, fotogénico, surreal e ainda conhecemos o Sidi que nos convidou para ficar em casa dele. Amanha voltamos para Nouadhibout - noutra jornada de 700 km em 20 horas. Quarta-feira colocamos todas as imagens no blog e depois siga para Dakar!
post via SMS
Estamos no maior comboio do mundo! Depois... siga p Dakar! Vendemos tudo no Senegal e voltamos a boleia. E tu? Até onde vais com 200 euros? ;)
domingo, 25 de maio de 2008
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Até onde vais com 1000 euros?
Ontem talvez tenha sido o dia mais “duro” de toda a viagem: tínhamos um trunfo na manga – uma boleia num barco de pesca espanhol, daqui da Mauritânia até ao Sul de Espanha – e contactos nessa direcção. Chegados ao local, as coisas mudaram de figura e verificámos que é, no mínimo, uma hipótese improvável…
Com apenas 220 euros cada*, e todo o trajecto para fazer por terra até Portugal, chegámos à conclusão que talvez seja hora certa de voltar.
Para nós sempre existiu um ponto “sagrado” em todo este projecto: os 1000 euros. Este “limite” tornou-se a alma da viagem e foi desta forma que chegámos longe em experiências e muito perto do que mais nos interessa – as pessoas.
Assim sendo, chegou o momento de pesar prós e contras e reflectir um bocadinho.
Por um lado…
- o dinheiro está a acabar e ainda temos de fazer todo o trajecto de volta
- chegámos à Mauritânia, “conquistando” territórios completamente novos
- cada experiência foi uma vitória, e temos histórias suficientes para regressar mais-que-satisfeitos
Mas por outro…
- Dakar é, apesar de tudo, a nossa meta pessoal (e ja aparece nas placas da estrada!)
- o dinheiro que resta ainda pode “render” muito
- podemos tentar outras alternativas para um regresso rápido e barato
Os portugueses que encontrámos entre Agadir e Tiznit, que foram até à Guiné-Bissau, falaram-nos de um farol aqui perto de Nouadhibou, no Cap Blanc. Vamos lá hoje – é provavelmente o sítio certo para encontrar algum tipo de iluminação…
E até segunda-feira decidimos: até onde vamos com 1000 euros?
Aceitam-se sugestões.
(* o contador dos 1000 euros vai ser actualizado hoje ao fim do dia)
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Entre a fronteira de Marrocos e a Mauritânia, há 3km do que se chama “Terra de Ninguém”. E a tal estrada doutros tempos, ou o que resta dela, não vê obras desde... desde esses mesmos tempos. Atravessar este bocadinho do deserto é um desafio ao melhor sentido de orientação. Em redor dos vários trilhos e atalhos há carros, frigoríficos e sofás em vários estados de decomposição. Lixo por todo o lado – é que, como diz o nome, este bocadinho do mapa não pertence nem a um país nem ao outro, por isso não há quem se dê ao trabalho de manter o sítio... digamos... limpo. Não há manutenção, não há segurança – não há hipótese.
Dei por mim, enquanto tentava perceber o porquê de tanta porcaria em tão pouco espaço, a fazer um exercício de imaginação. Uma avaria. Um carro cheio de coisas, o motor vai abaixo e não há quem o arranje, porque ninguém pára na Terra de Ninguém. Encontrar um mecânico com passaporte, que se disponha a atravessar uma fronteira para resolver uma avaria, não deve ser fácil. E tendo em conta que a oficina mais próxima fica a 50km, na Mauritânia, ou a 80 do lado marroquino... só o tempo de ir-e-voltar é o suficiente para o carro ser completamente pilhado. Na Terra de Ninguém, não há polícia para ir “apresentar queixa” – e as mesmas pessoas que temem ficar apeadas são as primeiras a aproveitar-se de quem teve o azar de deixar alguma coisa para trás.
No fim das contas, ficam os esqueletos. Fantasmas ferrujentos que são como um aviso: passem com cuidado, mas passem depressa.
by Jorge
Não aceites boleias de estranhos, não andes de bicicleta à noite, cuidado-com-isto, cuidado-com-aquilo... por muito que as nossas mães nos tenham avisado, desde pequenos, é irresistível chegar a este ponto da viagem e não fazer o que fizemos.
E o que fizemos foi esticar o polegar e pedir boleia, noite cerrada, à saída de Bojador, para “despachar” o mais depressa possível os 680km que nos separavam da Mauritânia. Não temos por hábito pedalar à noite, mas fomos às escuras até ao primeiro posto de polícia, a 6km da cidade, e aí nos instalámos à espera que uma alma caridosa nos levasse para baixo.
A noite passou devagar, a lua quase cheia atravessou o céu e mergulhou silenciosamente no mar. Houve tempo para dormir e tempo para conversar, para ouvir música, partilhar cigarros e beber chá. E quando um dos polícias conseguiu uma boleia para nós, já passava das duas da manhã. Bicicletas e bagagem arrumadas em cima do camião, que transportava ácido de baterias para Nouakchott – e nós lá para dentro, encaixados como sardinha em lata com os outros três viajantes.
Apresentações feitas, seguimos viagem. Avançámos 150km... em três horas... e parámos num posto de gasolina, para descansar. Bebemos café às escuras... o céu começou a clarear... e quando achávamos que íamos voltar à estrada,“Vamos dormir um bocadinho...”
Assim foi o resto do percurso. Acordámos às dez da manhã, conformados com a ideia de que tínhamos apanhado boleia do Camião Mais Lento do Sahara. E entre paragens de cinco horas, pausas para descanso e mais uma noite a dormir numa bomba de gasolina, demorámos ao todo 36 horas até chegar à fronteira. Trinta e seis, em extenso para que não haja dúvidas!
Foi uma viagem dentro da viagem. E depois dos últimos 40km numa estrada rodeada por minas e uma paisagem espectacular, eis-nos prestes a entrar num país novo, passaportes no bolso ansiosos por mais um carimbo, expectativas ao rubro porque outras histórias nos esperam.
by Jorge