terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Al Aila

Antes de começar a pedalar para fora de Larache, e da sombra do “tout” sinistro que nos perseguia de cacetete em punho, fomos comprar dois objectos em falta: um fogareiro a gás e um fole para a minha buzina, que se tinha perdido (daqueles em borracha tipo vendedor de gelado). A buzina em Marrocos é muito mais importante que o capacete: aviso para ultrapassar carroças, carros parados, para assustar animais e acenar aos miúdos na estrada.

Na drogaria não tinham a borracha, mas sacaram de uma caixa pequena, cheia de pó, com uma reluzente buzina a pilhas, amarelo-ferrari e três tipo de som – ambulância, polícia, e outro histerismo indiferenciado. Todos com um som agudo e distorcido que entrava como setas no tímpano. Era tudo o que queria: dava nas vistas e oferecia um brinquedo foleiro à Mikelina. Montei a sirene a meio do guiador, estiquei o fio até à manete do travão, onde prendi o sofisticado botão encarnado. Por três euros passava a andar numa bicicleta tunning, e fiquei radiante. Quando o Jorge chegou dei-lhe um show de buzinadelas, ao qual ele respondeu com um sorriso torto. Até ao fim da viagem degladiámo-nos em argumentos acerca de qual a buzina mais cool.

Naquele dia pedalámos quarenta e seis quilómetros sob um céu que se ia carregando de cinzento, mas sem passar da ameaça. Desde Azeitão que viajávamos a seco, até ao final desse dia: uns chuviscos anteciparam-nos a paragem um par de horas. Aproveitamos um café como porto de abrigo.Tinha chegado a hora: íamos finalmente fazer campismo selvagem em Marrocos, algo que desde o início nos fazia levantar algumas questões. Será perigoso?

by Carlos