quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O meu Sahara é diferente do teu

O deserto, como o imaginávamos, tarda a aparecer.

O Sahara das dunas e das miragens, das altas palmeiras no meio da areia infinita.

Será que existe?

O que é o deserto?

O deserto é, segundo o que pudemos constatar durante estes três dias, uma paisagem árida e aparentemente triste, feita de rochas e ocasionais arbustos, rasgada por uma estrada de alcatrão onde viajam camiões de matrícula marroquina, Mercedes azuis e duas bicicletas chamadas Mikelina e Penélope. Sim, há dunas. De vez em quando ao longe, às vezes em cima da estrada, de tamanhos vários mas nunca a perder de vista, daqui ao horizonte e do horizonte ao outro lado. O que, apesar de contrariar as minhas expectativas, não é necessariamente mau.

O deserto começa com um aviso: um sinal de trânsito triangular, branco por dentro e vermelho à volta, um desenho pintado a preto a lembrar o que toda a gente já devia saber: há camelos no deserto. Cuidado, não os atropelem. E surpresa ou não, há mesmo. Há camelos a atravessar a estrada, camelos no horizonte, outros na paisagem entre um lugar e o outro. Só a olhar – são animais curiosos, os camelos. Há de várias cores, muitos tamanhos e até com tipos de pelo diferente.

O deserto é areia e camelos, portanto – até aqui, nada de novo.

Mas também é lixo, por exemplo.

São latas de bebidas, pacotes de bolachas, embalagens várias. Atiradas pelos carros que passam. Sacos cheios de alguma coisa. Sandálias, ténis e camisas. Garrafas de vidro e garrafas de plástico, algumas cheias de um brilhante líquido amarelo… isso mesmo, exactamente!, já vi que não preciso de esclarecer do que se tratava o conteúdo. Mas deixo a dúvida que me inquietou durante alguns quilómetros: porquê o pormenor de fechar as garrafas? Se tinham tanta-pressa ou tanta-vontade, que nem sequer deu tempo para parar o carro… porquê o trabalho de enroscar a tampa?

Cadáveres de automóveis, em diversos estados de contorcionismo e decomposição.

Cadáveres de animais, em diversos estados de contorcionismo e decomposição.

by Jorge