quarta-feira, 25 de junho de 2008

Regresso a Rosso II – a Vingança(zinha)



Uns acreditam que Deus escreve direito por linhas tortas, outros juram a pés juntos que há males que vêm por bem. E mais ou menos religiosos, todos têm razão. Voltar recambiados para o Senegal foi provavelmente a melhor coisa que nos podia ter acontecido em Rosso.

1º, porque as peripécias e pequenas irritações do último dia tinham deixado um sabor amargo no nosso paladar de memórias.

2º, porque Saint Louis recebeu-nos de braços abertos, abrindo caminho para a necessária reconciliação com o Senegal. O Sada convidou-nos para ficar à borla no quarto que ele ocupa na pensão. Conhecemos a Savannah, uma americana de chorar a rir que fala francês como os programas de tradução automática, e que nos levou a uma festa na Universidade de Saint Louis, onde outras dez americanas estudam e... digamos... trocam experiências culturais.

3º, porque nem sequer foi preciso voltar a Dakar para fazer os vistos. Ainda em Rosso, ligámos ao braço direito do Sr. Khaled, o Mohammedou, a explicar o que acontecera. Ele pôs a máquina a funcionar e menos de 24 horas depois, recebemos por e-mail a cópia de um fax desbotado, teoricamente “a solução de todos os nossos problemas”. A ver vamos, disse cada um para os seus botões, sem querer exteriorizar dúvidas. É que numa altura em que psicologicamente vamos bem avançados já a caminho de Lisboa, a última coisa que apetecia era ter de “dar um saltinho” a Dakar para tratar de papéis.

O fax desbotado não foi só “a solução de todos os nossos problemas”. Este milagre disfarçado de folha de papel A4 conseguiu proezas bem mais louváveis. Digamos que o dia em que tentámos pela segunda vez entrar na Mauritânia foi um dia diferente. O sol nasceu à hora prevista, mas mais brilhante que o costume. Resultado: as bouganvílias estavam mais coloridas que nunca, toda a gente sorria, a teranga estava no ar. As mulheres puseram as suas perucas mais bonitas, os pássaros cantaram músicas novas que ensaiavam secretamente há meses, as crianças riram-se mais alto ao ver passar bandos de borboletas. Uma brisa fresca rasgou o calor e causou arrepios a todos os que dormiam até mais tarde, despertando-os com um sorriso. Que dia lindo! ;)

Saímos para a gare e havia um sete place prestes a sair. Perguntámos-lhe o preço e ele atirou logo com a quantia certa, sem ser preciso regatear, evitando todo o drama que envolve tentar baixar o “preço de branco”.

Chegámos cedo a Rosso e atravessámos numa piroga que não teve de esperar por meia-África para sair. E ao desembarcarmos, ainda traumatizados com os acontecimentos recentes, qual não foi a surpresa ao darmos de caras com agentes da autoridade... sorridentes!

Mas o verdadeiro milagre estava para acontecer: a cópia do fax desbotado não só acendeu sorrisos em caras pouco habituadas, como quase provocou vénias e benditos-sejam. Desenrolaram-se tapetes vermelhos, apareceram pagens de corneta em punho, lançaram-se pétalas de rosas à nossa passagem. Até discursos foram feitos, lidos com intensidade ao som de tambores e aplausos, causando lágrimas nas vendedoras de peixe. E nem sequer tivémos de pagar 20€ pelo visto, como é previsto por lei.

Mas não nos queixámos. Chamem-lhe “vingançazinha”.

A nossa estrelinha pôs o Sr. Khaled, o Mohammedou e a ICAR no caminho desta viagem. Mas ainda hoje nos perguntamos como é que um homem de negócios com mil-assuntos para tratar, se dá ao trabalho de perder tempo com dois malucos que se montaram em duas pasteleiras até ao Senegal... só pelo prazer de ajudar a concretizar o projecto – e só porque gostou do espírito da coisa!

Ficámos uns dias em Nouakchott, muito bem acompanhados/apadrinhados/patrocinados pela ICAR, José Fachada e outros portugueses que trabalham aqui. Bebemos umas Sagres, tomamos a bica (Sical!), só faltou o bitoque. Não temos palavras, além de um óbvio Obrigado-com-O-maiúsculo, pela a forma como fomos recebidos.

E aqui estamos, em Nouâdhibou – de regresso ao “conforto do lar”. Entenda-se: a casa do Djallo, o nosso amigo guineense. O Joaquim voltou para o Algarve, foi pena o desencontro. E porque não há tempo a perder, vamos já embora para Marrocos. Damos um saltinho a Tarfaya, bebemos um chá em Guelmim e toca a andar, Inchalah.

8 comentários:

Anónimo disse...

Lisboa é o vosso regresso e porto de abrigo.
Os Portos de Abrigo servem para os que se aventuraram a enfrentar tempestades, mas que precisam de regressar para que a vida tenha sentido
Sem este contraste a vida pode tornar-se muito monótoma ou muito inconsequente.A.L.

Anónimo disse...

Lisboa espera por vocês!

Unknown disse...

Eu,Lisboa, Porto, Aveiro, Algarve, Alentejo, etc..... espera vos.
Aproveitem cada segundo do vosso regresso e continuem por muito mais tempo a "alimentar" o meu coraçao com este blog, as vossas palavras e as imagens são uma fonte de energia positiva nos meus dias. Lol
Orgulho me muito em ser vossa amiga
Mil beijos
Vibraçoes++++++++++++
zzzzzzzzzzzz saudadinhas

Anónimo disse...

Que bom este último episódio ter apagado o mau estar do anterior. Bem-vindos a casa.
Contamos com a presença dos 2 num próximo jantar de manos (tios do Jorge, neste caso).
Foi com muito orgulho que toda a família seguiu a vossa viagem.
Muitos beijinhos e até lá
Tia M

Anónimo disse...

bora lá rápido!!!!!
até já!
beijos

Anónimo disse...

A vingança serve-se fria... com um sorriso nos lábios. (o que fazem os papéis desbotados na altura certa.....)
Continuação de bom regresso
Abraços
007

Anónimo disse...

Estamos cheios de saudades!
Beijinhos e boa viagem.
Mariana

Anónimo disse...

muito interessante